Podcast do Gemólogo – Episódio 002 – O que é gema?


Olá gemólogos e entusiastas, hoje é dia 29 de outubro de 2019, eu sou Thiago Freitas e este é o podcast do gemólogo, o seu podcast sobre gemologia.

A intenção deste podcast é propagar informações do campo de estudos da gemologia, esta ciência relativamente pouco conhecida no Brasil, mas que com fé em Deus vamos torná-la cada vez mais popular.


E como estamos encerrando o mês de outubro e com ele a campanha do outubro rosa, o destaque do mês fica para a gemóloga Eunice Robinson Miles (Mother GIA).

Placeholder Alt Text
Eunice Robinson Miles (Mother GIA) – (1917–1997)

Miles conquistou seu diploma de gemóloga em 1944, sendo a única mulher da sua classe.

Em 1953 fez história como a primeira mulher a fazer parte da equipe do laboratório do Gemological Institute of America.

Durante este período de atuação nos laboratórios do GIA, em resposta aos novos e sofisticados métodos de revestimento de diamantes, Miles desenvolveu uma técnica de detecção óptica por microscopia.

Como consequência de seu trabalho, tornou-se pioneira em pesquisa de técnicas de detecção de diamantes tratados por revestimento.

Seu trabalho foi reconhecido pelo Departamento de Minas nos EUA, e foi posteriormente usado pelo FBI para prender o maior estelionatário do comércio de diamantes tratados por revestimento que eram comercializados de maneira fraudulenta.

Sua reputação alcançou a excelência com suas avaliações de diamantes, e no momento da sua aposentadoria, a sua influência no campo da gemologia foi amplamente reconhecida conferindo-lhe várias homenagens e premiações.

Entre elas:

  • Foi premiada com o Hall da fama na Associação Feminina de Joalheria;
  • Prêmio da Sociedade Internacional de Avaliadores de Gemas e Indústria Joalheira;
  • Tornou-se membro Honorário da Gemmological Association of Great Britain.

Sua contribuição para a gemologia permanece influenciando alunos até hoje, seja no desenvolvimento de pesquisas ou por meio das bolsas de estudos que levam o seu nome e são ofertadas anualmente aos alunos do instituto, desde 1989.


Episódio 2 – O que é Gema?

É normal que uma palavra com mais de um significado cause algum engano ou erro de interpretação, principalmente quando fora de contexto.

Isso se potencializa quando a palavra é utilizada em uma ciência que ainda não é amplamente conhecida, mas estamos aqui para ajudar a esclarecer.

Tradicionalmente costumo citar mais de uma fonte para um melhor entendimento do assunto, e seguindo a tradição, vamos à definição do termo gema:

Cornelius Klein e Barbara Dutrow em Manual de Ciência dos Minerais definem gema como:

Um mineral que, ao ser lapidado, possui beleza o suficiente para ser utilizada em joias ou como adorno pessoal.

E segundo a definição mais completa do nosso querido Professor Pércio Moraes Branco no seu Dicionário de Mineralogia e Gemologia, gema é:

(Uma) Substância gemológica que, por sua raridade, beleza e durabilidade, é usada como adorno pessoal. Na sua grande maioria, são minerais; há, porém, gemas de origem orgânica, artificiais e sintéticas.

No British Dictionary, além da definição que se assemelha às anteriores, gema também é definida:

“A person or thing held to be a perfect example”
(Uma pessoa ou coisa considerada um exemplo perfeito)


A origem da palavra

Por volta do século 14, o termo “Gemma” teve sua origem no Latim, e foi aplicada no francês antigo com a mesma grafia, e mais tarde adaptada para o inglês médio com a grafia “Gemme”, substituindo as grafias “Yimme” do inglês médio e “Gim” do inglês antigo.

O termo em Latin originalmente se referia aos “brotos” das plantas e posteriormente passou a englobar joia, pedra preciosa ou objeto com beleza ou qualidade exemplar, e até mesmo uma pessoa com muitas qualidades.

“Um abraço aos gemólogos nascidos na capital do ES, os capixabas da gema.”


Por que gema?

Com a organização dos estudos da gemologia moderna, o termo “gema” passou a ser utilizado em substituição aos dois termos (pedras preciosas e semipreciosas) que caíram em desuso, inicialmente, nos principais idiomas europeus.

Mais tarde, a American Gem Society regulamentou a não utilização dos termos pedras preciosas e semipreciosas por seus membros.


Pedras Preciosas x Semipreciosas

Os termos pedras preciosas e semipreciosas surgiram por volta do século 18, no período em que apenas diamantes, safiras, rubis e esmeraldas despertavam grande desejo, por serem utilizadas pela realeza e aristocracia, transmitindo uma sensação de riqueza e poder.

Suspeita-se que o termo pedra semipreciosa foi criado por comerciantes, para valorizar as gemas tradicionalmente utilizadas na confecção de joias da nobreza, criando assim uma rejeição as gemas que seriam suas potenciais substitutas.

Para um melhor entendimento, vamos citar a definição dos termos pedras preciosas e semipreciosas, disponível em dois grandes dicionários gemológicos.

No Dicionário de Mineralogia e Gemologia do professor Pércio

Pedra Preciosa – Designação comum às substâncias gemológicas inorgânicas usadas para adorno pessoal, excluídos os metais nobres (Deve-se abolir a denominação semipreciosa).

Obs: Segundo a legislação francesa, são consideradas pedras preciosas, os diamantes, rubis, safiras e esmeraldas, sendo as demais gemas chamadas de pedras finas.

Ainda no livro do Professor Pércio, Pedra Semipreciosa –  é a denominação condenável que designa as gemas minerais não consideradas preciosas.

Distinção a ser sempre evitada por ser confusa, arbitrária, inútil e artificial, recomenda-se chamar os dois tipos de pedra preciosa ou simplesmente “gema”.

No Dictionary of Gems and Gemology, Robert M. Shipley, define como

Pedra preciosa – Diamantes, safiras, rubis e esmeraldas.

Entretanto, em stricto sensu, todos os materiais gemológicos genuínos são preciosos.

Ainda no dicionário de Shipley, Semiprecious Stones – Uma classificação indeterminada e enganosa baseada em espécies ou variedades e não em gemas individuais e incluindo todas as outras espécies de gemas, classificadas abaixo das preciosas.

Neste caso ele se refere como pedras preciosas às gemas citadas na definição anterior (Diamante, esmeralda, safira e rubi), que são conhecidas no mercado internacional de gemas como “The Big Four”, as quatro gemas tradicionalmente mais cobiçadas na alta joalheria.

Como visto nestas definições, a substituição dos termos anteriores pela termo gema é a maneira mais justa de se referir a materiais gemológicos, tendo em vista que todo material possui a sua beleza, raridade e durabilidade.

Temos como exemplo a tanzanita, turmalina paraíba, variedades de crisoberilos e outros materiais que podem alcançar valores elevados, podendo até mesmo superar alguma das quatro gemas tradicionais em beleza ou qualidade, caso alguma das quatro possua uma qualidade inferior.


O termo Gema é um Homônimo Perfeito

São chamados de homônimos os termos que possuem a mesma grafia e o mesmo som, mas apresentam significados diferentes.

Os dois significados mais relevantes que o termo gema possui são:

Pedra Preciosa ou material que possui beleza, raridade e durabilidade para ser estimado precioso e utilizado como adorno.

E o outro, popularmente conhecido, é a porção amarelada no centro de um ovo, ou seja, a gema de ovo.

Dito isso, você pode responder com propriedade àquela velha piadinha utilizada por pessoas que não sabem a diferença entre gemologia e Oologia.

Oologia é um ramo da zoologia que estuda os ovos das aves. Fica a dica!

Gemologia é uma ramificação da mineralogia que estuda os materiais potencialmente gemológicos, cientificamente conhecidos como gema, termo que substitui os termos arcaicos “pedras preciosas e semipreciosas”

E já que falamos em gemologia, vamos ressaltar a diferença entre Gemologia x Geologia, já abordado no episódio anterior:

Ambas as áreas estão contidas nas geociências (Ciências da terra), contudo, são especializadas em campos de estudos diferentes, sendo a gemologia especializada em minerais e outros materiais gemológicos utilizados no segmento joalheiro.


Critérios de classificação

Para se enquadrar como material gemológico, os critérios analisados são sua beleza, raridade e durabilidade.

Há exceções de algumas gemas pouco raras e outras com algumas restrições ligadas à sua durabilidade, porém, a combinação destes 3 critérios, evidenciam a sua classificação gemológica.

No caso da utilização na joalheria, podemos observar um 4º critério, que seria a portabilidade.


Quanto a unidade de medida

O quilate, a atual unidade de massa utilizada na pesagem de gemas foi adotada em 1907 na 4ª Conferência Geral de Pesos e Medidas (Conférence Générale des Poids et Mesures – CGPM) que se reúne em Paris a cada 4 ou 6 anos, para avaliar e gerir o Sistema Internacional de Unidades (SI). Seu peso equivale a 200 miligramas, ou 0.2 gramas, ou seja, um quinto de um grama.

Qual a origem dessa medida?

O termo “Carat” é utilizado no inglês desde o final do século 16, embora tenha sido empregado anteriormente em outros idiomas como o Grego (καράτι) e o Latim (Carratus), referindo-se a “semente de alfarroba” ou “medida de pequeno peso”.

Representação de sementes de alfarroba sendo utilizadas em pesagem de gemas. (Imagem retirada da internet)

O uso das sementes de alfarroba como contrapeso nas balanças era uma prática antiga entre os comerciantes de gemas do oriente médio, devido a sua uniformidade de dimensões que lhe conferem um peso aproximadamente igual em diversos locais do mundo, facilitando a pesagem de pequenos materiais.

E voltando a falar de homônimos, o termo quilate possui um Homônimo Homófono, palavra com fonética igual, porém, com grafia e significado diferente.

O termo Kilate (Iniciado com K-I) refere-se a proporção da pureza da liga de ouro, enquanto o termo quilate (Iniciando com Q-U-I), como acabamos de conferir, é a unidade de massa utilizada na pesagem de gemas. Mas isso é um assunto para outro episódio…


COMPARTILHE O NOSSO PODCAST PARA QUE MAIS PESSOAS POSSAM APRENDER SOBRE GEMOLOGIA.

Para envio de dúvidas, críticas ou sugestões de pauta:
podcast@ogemologo.com


Referências: